Convento de São João Evangelista de Xabregas

Description level
Fonds Fonds
Reference code
PT/TT/CSJEX
Title type
Atribuído
Descriptive dates
1405-[18--]
Dimension and support
37 liv., 78 mç.; perg., papel
Biography or history
O Convento de São João Evangelista de Xabregas, era masculino e pertencia à e foi sede da Congregação dos Cónegos Seculares de São João Evangelista, vulgarmente conhecida por Lóios, ou cónegos azuis, como eram designados popularmente devido à cor azul do seu hábito. Este convento é também conhecido como Convento de São Bento de Xabregas ou Convento do Beato António, ou ainda Casa de São Bento.

A Congregação dos Cónegos Seculares de São João Evangelista é uma congregação portuguesa de cónegos seculares com votos temporários, fundada no início do século XV com o objectivo de contribuir para a reforma do clero em Portugal. A formação da congregação pode considerar-se consolidada a partir de 1431, ano em que pela primeira vez foi exercido o direito de voto para eleição do reitor do convento de Vilar de Frades.

A congregação nasceu em 1420, na igreja dos Olivais, próximo de Lisboa, por iniciativa de mestre João Vicente (médico e professor na Universidade de Lisboa e futuro bispo de Lamego e Viseu), de Martim Lourenço (doutor em teologia), e de Afonso Nogueira (canonista graduado pela Universidade de Bolonha e futuro bispo de Coimbra e arcebispo de Lisboa). Por razões ainda pouco claras, este grupo fundacional e outros sacerdotes que se lhe juntaram viram-se obrigados a abandonar a casa dos Olivais, de onde, após certa dispersão, com o apoio do bispo do Porto, D. Vasco, se transferiram para a igreja de Campanhã (1423). A passagem de D. Vasco para o bispado de Évora e a intimação do novo prior de Campanhã para que o grupo abandonasse a sua igreja provocaram uma nova dispersão da comunidade. Mestre João Vicente obteve, então, a protecção de D. Fernando da Guerra (arcebispo de Braga), que lhe concedeu a igreja secular de São Salvador de Vilar de Frades (1425), antigo mosteiro beneditino, que entretanto vagara. Em 1427, o Papa Martinho V outorgou a aprovação do novo instituto, confirmou a concessão do arcebispo de Braga e autorizou-os a viverem segundo o uso e costume dos cónegos de São Jorge de Alga de Veneza.

Uma maior estabilidade da comunidade foi alcançada por ocasião de uma viagem de mestre João Vicente e Martim Lourenço à Borgonha, integrados, por encargo de D. João I, no séquito de casamento da infanta D. Isabel com o duque Filipe, o Bom (1429). Da Borgonha, os religiosos passaram a Itália, tomaram contacto com a Congregação de São Jorge em Alga e, em Roma, mestre João Vicente veio a ser nomeado bispo de Lamego, em Maio de 1432. Já anteriormente, a congregação obtivera do papa a bula 'Injunctum nobis' de 18 de Maio de 1431, segundo a qual fora permitido aos religiosos de Vilar de Frades seguirem a regra de Santo Agostinho e as constituições de São Jorge de Alga, elegerem um prior, aceitarem igrejas e outras casas no país, elaborarem estatutos próprios e gozarem dos mesmos privilégios de que usufruía a Ordem de São Jerónimo.

O sucesso alcançado pelos cónegos e a protecção que estes receberam por parte da família real suscitaram a rivalidade do arcebispo D. Fernando da Guerra que pretendeu afirmar a sua autoridade sobre o mosteiro de Vilar. Não aceitando as pretensões do arcebispo, os cónegos, com o apoio da rainha Dona Isabel, conseguiram obter do papado a confirmação de isenção canónica, em vida do arcebispo (7.3.1446). No entanto, as reivindicações do ordinário do lugar foram imediatas e a contenda sobre a definição de poderes acabou por se arrastar, com alguma intermitência, até ao início do século XVI, época que correspondeu à fase de maior esplendor da Ordem, com fundações em Lisboa, Évora e Porto.

Posteriormente, os Lóios foram encarregados por D. João III da administração dos hospitais régios de todo o reino. Em 1536 assumiram a administração do Hospital de Todos os Santos, em Lisboa, e dos hospitais de Santarém, Montemor-o-Novo, Caldas da Rainha e Coimbra; um pouco mais tarde receberam também a administração dos hospitais do Vimeiro e de Castanheira e em 1541 a dos hospitais de Portel e Arraiolos. Instituíram várias missões no reino do Congo (em 1490, 1508 e 1521), fundaram um colégio em Coimbra (1548), um convento na Feira (1560), contribuíram de forma decisiva para a reforma pré-tridentina portuguesa e, por breve de 28 de Março de 1568, foram encarregues, por Pio V, da reforma dos cónegos de São Jorge em Alga. Por outro lado, dedicaram-se também à pregação popular e itinerante nos centros rurais e nas cidades, ao serviço apostólico e assistencial nas prisões e nos hospitais, ao acompanhamento dos condenados à morte, à criação de confrarias populares, à escrita da vida de santos, ao ensino às crianças dos primeiros elementos linguísticos e à assistência aos doentes e moribundos durante os surtos de peste de 1458, 1493, 1569 e 1579.

Depois da intensa acção apostólica e caritativa, a partir da segunda metade do século XVI, os Lóios foram progressivamente abandonando a actividade assistencial nas prisões e nos hospitais, suspenderam o seu empenho missionário e a fundação de novas casas, perderam a protecção régia e tiveram de enfrentar a oposição das respectivas autoridades eclesiásticas.

Na sequência dos intentos de uniformização canónica desenvolvidos pela Igreja no período post-tridentino, o papa Clemente VIII propôs a transformação dos Lóios numa congregação de votos perpétuos, mas dada a oposição manifestada, autorizou a permanência do estatuto anterior, por breve de 2 de Agosto de 1596. Durante o século XVII, verificaram-se outras tentativas de supressão da congregação que também não se concretizaram. Os Lóios portugueses resistiram mesmo à extinção em 1668 dos cónegos congéneres de São Jorge em Alga (Veneza).

Em 1822, o governo liberal reduziu para quatro, as nove casas dos Lóios; em 1824, o regime absolutista restitui-lhes esses conventos, mas a nova vitória dos liberais, em 1834, trouxe a supressão definitiva da Congregação de São João Evangelista.

Quanto ao convento de São João Evangelista de Xabregas, também conhecido por mosteiro de São Bento de Xabregas ou Convento do Beato António, foi fundado em 1462 segundo disposições testamentárias da rainha D. Isabel, mulher de D. Afonso V, num oratório já existente em Xabregas, dedicado a São Bento e pertencente ao mosteiro de Alcobaça. Depois de estabelecer um acordo com o abade de Alcobaça, D. Afonso V obteve do papa Pio II a confirmação da doação deste oratório e ordenou que passasse a designar-se de São João Evangelista, passando desde logo a ser a cabeça da Congregação, então também designada por Congregação de São João Evangelista de Xabregas.

O convento tinha quatro igrejas anexas, com importantes rendimentos e bens fundiários: São Leonardo de Atouguia, São Pedro de Alenquer, São Miguel de Sintra e São João Baptista de Rio Maior.

No final do século XVI iniciaram-se obras de ampliação que prosseguiram ao longo do século XVII. Apesar de ser a cabeça da congregação, no aspecto económico o convento não era tão rico como o Convento do Salvador de Vilar de Frades ou Santo Elói de Lisboa, estando aproximadamente ao mesmo nível que o Convento de Nossa Senhora da Consolação do Porto, com capacidade para 35 religiosos.

Entre 1570 e 1602 residiu neste convento o Padre António da Conceição, beatificado no séc. XVIII, tendo ficado ligado à toponímia:"sítio do Beato António" e "Convento do Beato";

Na sequência do terramoto de 1755, o Convento de São João Evangelista de Xabregas albergou os cónegos do Convento de Santo Elói cujo edifício ficara muito danificado.

Em 1834, no âmbito da "Reforma geral eclesiástica" empreendida pelo Ministro e Secretário de Estado, Joaquim António de Aguiar, executada pela Comissão da Reforma Geral do Clero (1833-1837), pelo Decreto de 30 de Maio, foram extintos todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e casas de religiosos de todas as ordens religiosas, ficando as de religiosas, sujeitas aos respectivos bispos, até à morte da última freira, data do encerramento definitivo.

Os bens foram incorporados nos Próprios da Fazenda Nacional.

Localização / Freguesia: Beato (Lisboa, Lisboa)
Custodial history
Os livros foram remetidos à Torre do Tombo pela Direcção Geral dos Próprios Nacionais, em distintas remessas, entre 1867 e 1894.

Não foi possível localizar nenhuma informação que permita identificar a proveniência da documentação avulsa.

Em Outrubro de 1998, foi decidido abandonar a arrumação geográfica por nome das localidades onde se situavam os conventos ou mosteiros, para adoptar a agregação dos fundos por ordens religiosas.

Esta documentação foi sujeita a intervenção, finalizada cerca do ano 2004, empreendida por uma investigadora externa à Torre do Tombo, Isabel Castro Pina, que procedeu à sua descrição. Apesar de ter proposto algumas alterações, estas não chegaram a concretizar-se.

No âmbito da elaboração do Guia de Fundos Eclesiásticos este fundo passou a designar-se Convento de São João Evangelista de Xabregas, nome formal da casa. No entanto, permaneceram as cotas já existentes: Convento de São Bento de Xabregas.

Um maço de habilitações estava indevidamente na Mesa da Consciência e Ordens, cx. 640 (NT 897), foi integrado neste fundo na série respectiva, e atribuída a cota Convento de São Bento de Xabregas, mç. 78. Esta integração foi feita por Joana Braga (Torre do Tombo) em Junho de 2008.
Scope and content
Contém bulas, ordens, alvarás, privilégios, confirmações e outra documentação régia, assentos de capítulos da Congregação, testamentos e instituição de capelas, inventários e partilhas de bens, prazos, juros, foros e rendas, tombos de propriedades, tombos de capelas, sentenças, receita e despesa, etc.

Grande parte da documentação em maços é habilitações de genere.

A documentação menciona bens localizados em Agualva, Alhos Vedros, Palmela, Setúbal, Azeitão, a quinta nova situada nos Barros de Palma de Cima em Benfica, ao Oratório de Óbidos, e às igrejas de São Miguel de Sintra, de São João de Rio Maior, de São Leonardo de Atouguia da Baleia e de São Pedro de Alenquer.

Fundos Eclesiásticos; Congregação dos Cónegos Seculares de São João Evangelista
Arrangement
Organização em séries documentais correspondendo à tipologia formal dos actos.
Other finding aid
ARQUIVO NACIONAL DA TORRE DO TOMBO - [Base de dados de descrição arquivística]. [Em linha]. Lisboa: ANTT, 2000- . Disponível no Sítio Web e na Sala de Referência da Torre do Tombo. Em actualização permanente.

Índice (inventário) dos livros de diversos conventos, ordens militares e outras corporações religiosas guardadas no Arquivo da Torre do Tombo, conventos diversos, caderneta 5 (Trindade de Lisboa a Xabregas) (C 272), f. 182-198, 200-202, 204, 209-210, 224

Relação de documentos vindos da Direcção-Geral dos Próprios Nacionais, em 14 de Maio de 1894 (A-L) (C 278), f. 55-56, 62-64.
Related material
Portugal, Biblioteca Nacional.

Portugal, Biblioteca Pública de Évora.

Existem livros relativos à Congregação dos Cónegos Seculares de São João Evangelista integrados na colecção Manuscritos da Livraria:

Portugal, Torre do Tombo, Manuscritos da Livraria, 796 - 'Novo memorial do estado apostólico'. 1468.

Portugal, Torre do Tombo, Manuscritos da Livraria, 1083 - 'Memórias da congregação'. Pelo Pe. Manuel da Visitação. c. 1600.

Portugal, Torre do Tombo, Manuscritos da Livraria, 399 - 'Colecção de memórias em defesa da história e crónica da Congregação de São João Evangelista , de consultas, censuras e outras notícias várias oferecidas à posteridade dos curiosos'. Pelo Pe. Lourenço Justiniano da Anunciação. 1750, 138 fl.

Portugal, Torre do Tombo, Ordem dos Cónegos Regulares de Santo Agostinho, Mosteiro de São Vicente de Fora de Lisboa, liv. 122 - Este livro poderá ter sido elaborado na Casa de São Bento de Xabregas. Devido a uma história custodial ainda desconhecida está integrado no fundo do Mosteiro de São Vicente de Fora de Lisboa.
Publication notes
SANTA MARIA, Francisco de - 'O ceo aberto na terra: historia das sagradas congregações dos cónegos seculares de S. Jorge em Alga de Venesa & de S. João Evangelista em Portugal'. Lisboa: [s.n.],1697. p. 423-460.
TAVARES, Pedro Vilas Boas - Lóios. In 'Dicionário de história religiosa de Portugal'. Dir. Carlos Moreira de Azevedo. Lisboa: Círculo de Leitores, 2001. ISBN 972-42-2416-3. Vol. J-P, p. 149-157.
"Ordens religiosas em Portugal: das origens a Trento: guia histórico". Dir. Bernardo de Vasconcelos e Sousa. Lisboa: Livros Horizonte, 2005. ISBN 972-24-1433-X. p. 242-243
Creation date
23/02/2011 00:00:00
Last modification
11/08/2023 09:42:49