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Carta do mestre e piloto da nau espanhola, por nome Vitória para o imperador, rei de Castela [Carlos V], em que lhe dão conta como foram à Ilha de Tidore, e das ilhas que descobriram, e como foram levados com a dita nau para Ternate, ilha de Portugueses, até serem levados a Moçambique, e lhe pediam ajuda e favor para serem conduzidos a suas pátrias

Description level
Item Item
Reference code
PT/TT/GAV/17/6/24
Title type
Formal
Date range
1525-10-25 Date is certain to Date is certain
Descriptive dates
Moçambique
Dimension and support
1 doc. (3 f.); papel
Scope and content
Carta sobre as coisas que lhes sucederam depois que a nau partiu de Maluco, como tornaram a descarregar a nau e a "dobamos" muito bem com boa ajuda do rei de Tidori, fazendo-lhe muita honra, e a tornaram a carregar, partindo aos seis do mês de Abril de 1522, e fizeram o seu caminho para irem demandar terra firme, onde o senhor Andres Niño fez as caravelas que estão no mar de Sul [?]: Desta terra firme às ilhas de Maluco não há mais que duas mil léguas. Desde aquela data até ao fim de Agosto, sempre andámos trabalhando pelo mar, esforçando-nos por tomar terra firme. Por haver sempre ventos contrários desviaram 42 graus e meio da parte do Norte, onde sofreram grandes tormentas de mar e muito frio. Não tendo que comer nem roupa que vestir, adoeciam e morriam sem se poder ajudar, porque havia já quinze meses que só comiam arroz, pelo que determinaram arribar a caminho de Maluco, o qual estava a mais de mil e trezentas léguas. A quinhentas léguas de Maluco tínhamos descoberto catorze ilhas que desta via fomos demandar, e estão entre 20 e 10 graus da parte do Norte. Na Ilha de Mao, a 20 graus, foram quatro homens dos mais sãos, e ficaram três, esta com pouca gente, enquanto as outras tinham muita gente da côr dos das Índias. Partiram para Maluco mas antes de lá chegarem morreram trinta e sete homens, não ficando na nau mais de seis que pudessem trabalhar "os quais deram a vida aos outros", e no dia em que descobriram a terra dos reis de Maluco, vimos uma barqueta e nos disseram que os portugueses tinham chegado com sete velas à ilha de Ternate e que estavam a fazer uma fortaleza. Quando ouvimos estas novas, mandámos um homem dos nossos ao capitão mor, o qual se chamava António de Brito, com uma carta pedindo que lhe mandasse dar alguma gente que os ajudasse a levar a nau aonde eles estavam porque a sua gente estava doente. O dito Capitão Mor mandou logo uma caravela redonda e uma fusta com outros navios de remos, com o capitão D. Garcia Manriques e os levaram à ilha de Ternate, onde estavam a fazer a fortaleza. Ali os deixaram, sãos e doentes, e se asenhorearam da nau e da mercadoria e nos tolheram quatro meses. De Ternate os enviaram às ilhas de Banda que também são da sua Coroa, e daqui a Malaca, onde estiveram cinco meses, e dalí os levaram à Índia, para os apresentar ao governador da Índia, estiveram na cidade de Cochim, onde carregam a especiaria; dez meses que não nos davam de comer se não fossem alguns estrangeiros que nos socorriam morreríamos de fome e quando vimos que não nos queriam dar passagem, nós, mestre e piloto embarcámos ambos "escondidamente" com a ajuda de bons amigos estrangeiros, em uma nau das que vinham a Portugal, mas não pôde passar a Portugal porque foi preciso arribar a Moçambique para invernar. Estando em Moçambique, veio aqui uma nau das que vinham de Portugal e logo nos tomaram e nos entregaram ao capitão, presos em grilhões, que nos levassem a entregar na Índia, ao Governador. [...] e ficando desamparados sem sopa nem dinheiro e sem amigos, suplicavam ao Rei, porquanto foram presos estando ao seu serviço, lhes quisesse fazer a mercê de demandar ao rei de Portugal, para que pudessem socorrer as suas mulheres e filhas que tinham para casar, e se pudesse ser, que viessem com as primeiras naus; e que não fosse mais tarde. Que faziam saber ao Rei e Imperador que ele tinha lá "três verjeles" dos melhores que há no mundo, a saber, Maluco pelo cravo e banda, pela noz moscada e massa, e Timor pelo sândalo, com muitas outras ilhas ricas de oro e pérolas [...] eu estive numa ilha que se chama "Narsara Sanguin [?]" e os portugueses se puseram a resgatar ouro a peso, por peso de umas contas que se chamam "margazidezas [?]" que valem muito pouco dinheiro em Espanha.

No final está escrito. "Los que quiedan siempre rogando a nuestro señor Jesu Cristo por la vida y estado de su cesara majestad. Bautista d' Aponsoro y Leon Pancado maestre e piloto de la nao que fue tomada em Maluco".

Outra forma do nome: Juan Bautista de Punzorol.

Outra forma do nome: Léon Pancado.
Physical location
Gavetas, Gav. 17, mç. 6, n.º 24
Language of the material
Espanhol
Alternative form available
Cópia em formato digital.
Related material
Portugal, Torre do Tombo, Gavetas, Gav. 15, mç. 10, n.º 34

Relação sucessora:

Portugal, Torre do Tombo, Reforma das Gavetas, liv. 36, f. 343.
Publication notes
Documento publicado em “As gavetas da Torre do Tombo: edição digital”. Vol. 7: (GAV.3-9), entrada 4203, p. 388 a 391. Sobre este e o documento Gavetas, Gav. 15, mç. 10, n.º 34 veja-se: "Ruta El Cano. La Primera Vuelta al Mundo: Cartas de Mozambique". [Em linha].[Consult. 19 Out. 2021].Disponível em WWW:
Creation date
5/16/2018 4:28:57 PM
Last modification
10/19/2021 4:18:27 PM