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Livro das Aves

Description level
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Reference code
PT/TT/MSML/B/5
Title type
Atribuído
Date range
1184 Date is certain to 1184 Date is certain
Dimension and support
1 códice (90 f.; 221 x 152 x 41 mm); perg.
Biography or history
A tradição oral de histórias tradicionais da região do Mediterrâneo Oriental encontrou um compilador anónimo em tempo que não é possível precisar, entre os sécs. II e V da era cristã. Algumas dessas histórias estão na Bíblia. Certas características e crenças relativamente a animais (autênticos ou fabulosos), plantas e pedras são usadas para delas se extraírem conclusões moralizantes. As ideias são muito simples, lineares, ingénuas, com o fim de tornar acessível a todos o pensamento místico e moral da Igreja. Essa recolhas são conhecidas pelo nome de Fisiólogo grego, do séc. XII, anónimo, e deste, primitivo, derivou o Fisiólogo latino, que seria do séc. V. O códice mais antigo que chegou até nós é do séc. VIII, atribuído a um monge de nome Teobaldo. O Livro das Aves deriva do bestiário 'De bestiis et aliis rebus' de Hugo de Folieto, autor representativo do espírito medieval, dominado pela dicotomia entre sentido literal e sentido alegórico, pelo gosto e necessidade de síntese. Os bestiários correspondem à escultura com fins didácticos - a Bíblia dos pobres, como é por vezes chamada.
Scope and content
No prólogo do Livro das Aves diz-se claramente: «... tenho que escrever para um iletrado (...) o que a Escritura indica aos sabedores indicará a pintura aos simples...». Os caracteres extrínsecos das plantas e dos animais são apontados para servirem de elemento comparativo da simbologia mística. Assim, a pomba - a de Noé, é o símbolo da quietação; a de David - símbolo da fortaleza; a de Cristo - símbolo de salvação; a prateada com reflexos de ouro - símbolo da Igreja. Tem dois olhos, isto é, sentido moral e sentido místico; duas asas - vida activa e vida contemplativa; as patas avermelhadas significam o sangue dos mártires; o prateado das penas significa a mortificação da carne; o canto é um gemido; não tem fel; voa em bandos; escolhe os melhores grãos; não vive da rapina; não come carne morta; descansa na água corrente por causa do açor. O pelicano - alusão ao hábito lendário de matar os filhos, chorar sobre eles 3 dias e depois rasgar o peito às bicadas, derramar o sangue sobre eles e ressuscitá-los como Cristo. No cedro faz ninho a pomba; o cedro do Líbano é Cristo, os pássaros são os pregadores.

O galo é o pregador que anuncia a boa nova; o primeiro que acorda a manhã, ou seja, aquele que orienta as pessoas; a avestruz, com o seu pescoço muito alto, que dá nas vistas, é como os fariseus e os hipócritas; o milhafre, de voo mole, representa a tentação da volúpia, e o pavão, que levanta a cauda quando se lhe fala, transformando-se completamente, parece-se com o adulador. É curioso notar que a atribuição a alguns animais de certas características encontra eco nos cancioneiros. Assim, segundo o Livro das Aves, a rola que perde o companheiro fica sozinha para sempre, tal como no poema medieval galego: La rula que viudou / xurou nó mais ser casada / no pousar en rama verde / ni beber en auga crara.

É o entendimento generalizado de um conjunto de códigos que espelham uma tendência marcante para ver no mundo sensível e real uma manifestação ou um contraponto de um mundo sobrenatural.

O texto apresenta-se regrado, com 21 linhas, a 1 coluna.

Na obra ‘O Arquivo da Torre do Tombo’ de Pedro de Azevedo e António Baião, este códice é apresentado nos seguintes termos:

«Livro das Aves: É um códice em pergaminho, não paginado, regrado horizontalmente e escrito só numa coluna. É notabilíssimo sob todos os pontos de vista e especialmente sob o da iluminura. Este códice acha-se impresso nas obras de Hugo de S. Victor, tomo 2.º, 1648, a pag. 349. É uma epístola ao converso Rainero, escrita a pedido dum certo Desiderio a quem o autor chama caríssimo. Começa por tratar das pombas “cujus penne sunt deargentale et posteiora dorsi ejus in pallore auri” (cujas penas têm reflexos de prata e a cauda a cor do ouro), e delas trata detidamente: fala-lhes nos pés, nos olhos, etc. Depois ocupa-se doutras aves: o açor, a rola, o pardal, o pelicano, o corvo, o galo, a avestruz, o abutre, o grou, o milhafre, a andorinha, a cegonha, o melro, o pato, a gaivota, a calhandra, a codorniz, a poupa, o cisne, o pavão, a águia, e todas estas descrições são acompanhadas de competentes iluminuras representado os diferentes animais, com certo sabor naturalista, que muito faz realçar o seu valor. Por último, ocupa-se da criação da mulher, e é este, se não nos enganamos, o assunto a iluminura do verso da última folha do preciosíssimo códice de que nos vimos ocupando. Em seguida descreve as diferentes partes do homem. Tem também algumas letras ornadas, sendo notáveis o D que inicia o prólogo e o S que inicia o texto. São um pouco no estilo árabe, no mesmo de algumas letras a que já nos referimos. Termina pela seguinte notícia de capital importância: “Scriptus est liber iste ad laudem et honorem dei omnipotentis e sancti mametis laurbanensis monaterii tempore regis alfonsi in diebus Johannis abbatis. Era m.ª cc.ª xx.ª j.ª.”. Tradução: Foi escrito este livro em louvor e honra de Deus omnipotente e do mosteiro de São Mamede de Lorvão, no tempo do rei Afonso (el rei D. Afonso Henriques) sendo abade João. Era 1221 (Ano de Cristo de 1183).»
Access restrictions
Documento sujeito a autorização para consulta e a horário restrito.
Physical location
Ordem de Cister, Mosteiro de Lorvão, códice 5
Previous location
CF 90
Language of the material
Latim; Letra gótica.
Alternative form available
Cópia em microfilme. Portugal, Torre do Tombo, mf. 148
Publication notes
À descoberta da cor na iluminura medieval com o Apocalipse do Lorvão e o Livro das Aves [Policopiado] / Adelaide Miranda ...[et al.]. - [S.l. : [s.n., s.d.]. - [50] p. : Bast. il. ; 30 cm. Existente na Torre do Tombo, Biblioteca 1396/07
ALBUQUERQUE, Martim de - A Torre do Tombo e os seus tesouros. Lisboa: Edições Inapa, 1990. 347, [4] p.. ISBN 972-9019-31-2. p. 79-85
AZEVEDO, Pedro A. de; BAIÃO, António - O Arquivo da Torre do Tombo: sua história, corpos que o compõem e organização. Lisboa: ANTT; Livros Horizonte, 1989. (Fac-Símile). Reprodução fac-similada da edição de 1905. p. 73-84.
CLARK, Willene B.-«The Illustrated Medieval Aviary and the Lay-Brotherood» Gesta 21/1, 1982, 63-74; ID. - The Medieval Book of Birds: Hugh of Fouilloy's Aviarium. Binghamton (N. Y.), 1992.
HUGO DE FOLIETO - Livro das aves. Trad. e introd. por Maria Isabel Rebelo Gonçalves. 1ª ed . Lisboa: Colibri, 1999. 195, [2] p. ; 24 cm. (Obras clássicas da literatura portuguesa ; 61) . Tít. orig.: De bestiis et aliis rebus - I. de avibus. - Bibliografia.
NASCIMENTO, Aires. A. - Os antigos códices de Lorvão: balanço de pesquisa e recuperação de tradições. Penacova: Município, 2016. - 60 p. ISBN 978-972-99628-6-8. Exemplar disponível na Torre do Tombo, Biblioteca SV 218/16
NASCIMENTO, Aires Augusto – Tempos e livros medievos: os antigos códices de Lorvão – do esquecimento à recuperação de tradições. In Ler contra o tempo: condições dos textos na cultura portuguesa: ( recolha de estudos em hora de vésperas). Lisboa: Centro de Estudos Clássicos - Faculdade de Letras, 2012. 2 vol.. ISBN: 978-972-9376-28-3. V. 1, p. 389-410.
Notes
Título atribuído.



ttonline_tesouros_grandes_iluminados
Creation date
24/03/2010 00:00:00
Last modification
03/04/2023 12:02:34